um dia, passeando tarde da noite pela avenida grande e rica, deparou-se com ela.
ela tinha o abandonado há algum tempo. tempo demais. tempo de menos. estava séria. esperava não sabia o quê e nem se esperava - ao terceiro que ali passava?
ele ainda era o mesmo. ainda. mudara quase nada. não pensara mais sobre si ou sobre o que faria dali em diante. lembrou da nota de guardanapo que escrevera em um bar ao som de um jazz suave e ao sabor de uma bebida forte. pensou em falar com ela. mas ela já era tão aquela.
aquela era linda e radiante. ria das coisas mais bobas. ria como riem as musas de Dionísio - ao menos, ele assim imaginava. um sorriso doce. um sorriso que custara procurar e quando encontrara, teve para si.
e como sempre em sua vida, continuou pensando. e imaginando. e criando. e formando expectativas e um mundo de ilusão. por que a ilusão lhe era doce. e nesse meio tempo, um carro se aproximou do meio-fio daquela avenida - tão pequena e pobre - e ela se foi com ele.
nunca mais quisera vê-la? mentira. sempre quis. e agora, quando a viu - toda mudada e com um sorriso contido (para ele ou para ela?) - não quis tocá-la. ficou com medo de que ao toque toda a ilusão se quebrasse.
e não valia a pena perder aquele sabor doce. tão antigo. tão íntimo.
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Há mais ou menos um ano, o Sr. Alcides de Oliveira escrevera aquela nota em um guardanapo (há um link no texto pra quem quiser relembrar) e há umas semanas ele me contou sobre o que veio depois do "perdeu-se?". simplesmente achei que tinha que dividi-lo com vocês. às vezes, tudo o que a gente quer é saber o que vai acontecer...
e quanto a mim: esqueci-me do gosto doce. o sabor da vida é como ele é. e aprendi que é assim. e que é bom assim... vivê-la como é.
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9 escrevinhanças:
"mas ela já era tão aquela" -> adoro, e conheço
assim como eu conheço a sensação de se saber sagradas algumas memórias...chegar perto é como se agredi-las...
vc colocou isso mto bem, jow
eu me lembrava do texto, sabia?
agora fiquei confusa ahaha.. o alcides existe ou é uma digressão? sim, eu sou pateta.
sim, compreendo. bem. como vc mesmo disse.
é um texto fino. vc escreve (mto) bem jojo.
Adoro como a grande avenida se transforma...
Mas ainda prefiro ela "grande e rica". Sempre.
E o doce é muito melhor.
Incrível como a idealização tantas vezes é superior à concretização. Particularmente, confesso a covardia de preferir manter algumas coisas intocadas, ainda que as saiba mentirosas, e manter minha consciente ilusão a respeito de mim mesmo, do outro, da vida.
Enfim, cada um sabe como parecem os sabores que se lhes oferecem.
Uhm... o amor é sempre uma idealização...
Mas vim aqui responder... não defendi o Gabeira em especial. O ponto era dizer que temos q agrdecer a todos que lutaram e não esquecer q o cara, como todos, tem milhões de erros, mas ainda assim esteve la pelo brasil... é isso. bom ou ruim, ainda acho q é um livro q tem q ser lido =)
o maluf ta voltando, o collor tbm... o q vira mais? a gente finge q não vê e aí seremos presos outra vez...
bandeira, m.:
"(...)as almas são incomunicáveis/deixa o teu corpo entender-se com outro corpo/por que os corpos se entendem, mas as almas não" (arte de amar, 1948)
Muito legal este post. Fala de um apego a ilusão mas a verdade dos versos são tão concretos que quase se pode tocar.
Abaixo um trechinho do meu texto 'carta ao amigo acidental', postado no meu blog, que me lembrei assim q li este texto:
"(...)Eu posso não vê-lo exatamente como é, mas não preciso mudar a forma como o vejo para aceitá-lo. Eu o vejo como meu anjo de doçura crua. Eu o amo na verdade. E na verdade reside o medo. Não sou tão nobre para dar e não querer nada em troca. Se lhe dou meus mais belos pensamentos, gostaria do mesmo em troca.'
beijos
finalmente entendi! só faltava saber o contexto. se eu não sei o contexto, não entendo. hehe, burro.
e eu já estou bem de boa de manter uma ilusão. prefiro encontrar na verdade nua e crua algo que me conforte. mas, lembrando sempre, "Não há realidade feliz que valha a décima parte de um sonho bom." o jeito é desfrutar do um décimo.
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