Sorrisos e amenidades numa noite de Brasília

19.9.07 |

As risadas eram suficientemente altas para serem ouvidas de todo o salão do restaurante localizado na Asa Norte da capital nacional. A mesa estava cheia de comida e de pessoas (acredito que a comida era muito melhor que a companhia presente).
- Aposto que semana que vem vai estar uma corja de jornalista tentando conseguir entrevista com o senhor presidente.
- Que isso Waldir... deixa disso, me passa aí esse 12 anos! – um sorriso amarelado em contraste com a testa vermelha do sol de Alagoas.
D. Alzira estava sentada ao lado da mulher do Waldir. Conversavam sobre amenidades femininas, desde a masculinidade duvidosa do Jeferson Antunes (filho do senador Cabral Antunes) que fora visto saindo de um cinema na zona sul abraçado com um outro colega; até a nova moda primavera-verão.
O deputado Aristides Rebelo conversava com seu colega de bancada Sérgio Rangel sobre os rumores espalhados por outro escândalo sexual, desta vez “tradicional”. A mídia comentava que um dos senadores do partido de oposição foi visto saindo de um motel com a secretária de um deputado da direita. O debate era se aquilo fora apenas um passatempo sexual ou um caso de troca de informações partidárias.
O garçom, que servia a mesa, é conhecido por todos como Olivetto, moço jovem de seus 25 anos que trabalha naquele restaurante há uns 8 anos. Olivetto tem o ensino médio completo, acabou de se tornar papai de uma linda garota de 5 anos (“me ajuntei com uma amiga minha”) e tira cerca de 1200 reais mensais de salário e mais uns 800 em gorjetas. Diz que se trabalhasse em São Paulo não ganharia mais do que 600 reais; Brasília é “onde os bacanas gastam dinheiro”. Naquele momento, Olliveto servia algumas sobremesas para as mulheres.
- Adoro esse pavê! Perfeito menina.
- Confesso que minha empregada faz um bem melhor... por quê não vai lá no meu sítio um dia desses? Conhecerá os doces de minha empregada...
- Claro, mas primeiro tenho que esperar esse escândalo baixar um pouco – sorriu
Os relógios já indicavam 1 da manhã e as conversas (fúteis e/ou políticas) ainda não tinham se esgotado.
- Falei assim hoje pra ele: Não se dê por vencido. Seus amigos estão com você!
O senador, seu esposo, pode ouvi-la do outro lado da mesa:
- Amor... mas esperava mais... pensava que tinha mais amigos... e olhe só... 35 inimigos declarados.
Todos caíram na risada.
Olliveto observava a mesa com os olhos se fechando. Precisava tomar o último ônibus que passava pela avenida as 1h50´, e os senadores não demonstravam sinal de esgotamento.
A conversa aos poucos foi silenciando. Os sorrisos se tornaram mais raros. Talvez conseqüência do álcool ou dos charutos cubanos (importados especialmente para essa comemoração) ou talvez do dia “sufocante” que tiveram.
O senador Waldir ergueu seu copo, chamou a atenção de todos e tentou terminar a comemoração:
- Colegas, acho que por hoje é só. Não acham?
- Waldir, ta atrasado pra pegar o trem? – o senador anfitrião deu risada. Chamou o Olliveto – Meu querido, traga-nos mais uma rodada de bourbon... e de doces...
Todos os outros sorriram.
A comemoração foi até as 4 da manhã. Olliveto perdeu seu ônibus e o sono. Mas quanto aos outros... os outros já estavam prontos para quantos mais processos se abrissem naquela próxima semana... e pra quantos outros protestassem. “Aposto que vão encher o saco na Paulista”.
A lua era minguante e o céu escuro, o que contrastava com os sorrisos amarelados dos velhos senadores e dos diamantes de suas mulheres.

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N.A.: D. Alzira passa bem de sua operação nifrídica e já está retomando a participação em seus eventos sociais. Optou por não comentar esse texto por motivos pessoais, mas promete que o próximo não escapará (bom ou ruim?).

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