Waldir, Valdete

6.12.07 |

Os seus pais o fizeram Waldir. A vida o fez Valdete. Trabalhava numa dessas boates decadentes no centro velho de São Paulo. Prestava serviços sexuais a tipos que nunca foram homens o suficiente para assumir que realmente não o eram; além de satisfazer as fantasias daqueles que negariam até a morte qualquer outro envolvimento com um corpo marcado pela testosterona.
Morrera num dia feio na capital. Chovia nem muito nem pouco. Mas chovia. Sempre quis morrer num dia desses. Achava poético. Morreu de infarto. Fumava muito. Marlboro Light. Muito mesmo, e a morte provara que de light só tinha o nome.
Alguns amigos (as) e amigas (os) de trabalho foram ao seu enterro num desses cemitérios esquecidos. Alguns choraram; outros lamentaram; um fez um discurso mirrado e sem criatividade; ao fim, todos beberam no bar próximo.
O Tiago, nome de batismo de um de seus colegas, ou para os clientes Amina (um jogo de palavras) era seu companheiro de quarto numa dessas kitnets baratas do centro. Numa carta que chamara de testamento, pedira ao amigo que transformasse seu diário em livro. O colega então começou a lê-lo. Os últimos três anos de vida do jovem-velho transformista foram lidos e relidos por ele. Passara uma semana longe dos programas para transformar o pedido do amigo em realização. Na semana seguinte ao fim da leitura, foi encontrado morto com um tiro na têmpora.
A polícia foi ao apartamento. Um legista apareceu tarde da noite. Tirou umas três fotos, mediu a temperatura do corpo, cheirou um pouco de coca que trazia no bolso da calça. Disse ao dono da kitnet que o laudo sairia em 15 dias. Perguntou se não tinha parente próximo. Ninguém sabia. Foi enterrado num cemitério mais barato do que o de Valdete, com o dinheiro da previdência pública.
A mulher do locatário, beata da Sé, roliça e mal vestida (e mal cheirosa, diga-se também) perguntou numa noite ao marido do que é que o rapaz, Tiago, sempre gentil para com ela, tinha morrido.
- Parece que se matou – ele respondeu rapidamente. Voltou ao futebol dominical
Na semana seguinte todos os moradores do prédio já tinham ouvido da mulher a causa mortis:
- Tinha a doença. Ia morrer. Se matou com um tiro.
Ele não tinha. Nem Valdete. Mas era mais interessante falar aquilo. Pra ver se a moçada não se metia mais com essas “orgias”.
No fim da história (se é que isso poderia ser uma história), o legista anotou suicídio em seu laudo só pra tirar o papel da sua mesa; o diário sumira, literalmente, da noite para o dia, juntamente com as fotos que continha; e a honra do locatário permaneceu intacta: como sempre foi.


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D. Alzira não gostou. Ela não gosta de textos que abusam de orações coordenadas. Odiou o tema: prefere assuntos que realmente condizam com a realidade. Disse também que abomina os transformistas, e perguntou se tenho alguma coisa contra gordinhas: "onde já se viu dizer roliças"?. E não acredita que a polícia tenha agido assim, por que segundo ela, "o governador vem agindo com mão-de-ferro para combater os maus elementos da corporação e da sociedade". E aproveitou o espaço pra protestar e dizer que as revistas todas estão engandas: o Ferraço não vai dar outro golpe na moçinha loira da novela.

Lindalva e a OpenMarket Seguradora

1.11.07 |

Ela nunca tinha visto o rapaz, mas quando viu, apaixonou-se. Não tinha o tirado da cabeça. Passara o dia inteiro no trabalho lembrando do seu cavanhaque, da sua camiseta lilás e de suas pernas atléticas (ele estava de bermuda naquele dia). Mas seu chefe não se agradara com aquele comportamento “aéreo” de sua funcionária.
- Lindalva?! Lindalva?!
Ela se virou pra ele:
- Sim, senhor
- Lindalva, o que acontece? É a segunda vez, só hoje, que você decidiu dar a indenização à um segurado. Você sabe que é política da empresa não indenizar, Lindalva. Você sabe que temos todos os meios e subterfúgios para não indenizar o cliente, não sabe Lindalva?
- Sei, sim senhor.
- Você leu as linhas miúdas aos fins dos contratos, Lindalva?
- Sim, senhor
- Então me diga por que raios você está dando indenizações hoje, Lindalva!
- Uma indigestão
- Indigestão, Lindalva?! Quer um antiácido, Lindalva?
- Acho que não resolveria. Mas já já melhoro, senhor Ariovaldo.
- Espero que sim, Lindalva! – virou-se para um outro funcionário no outro lado da sala e gritou – Oh, Fernandez! Você...
Lindalva tinha se apaixonado pelo rapaz e nem ao menos sabia seu nome. Sabia que ele era bonito; que gostava de rock (conseguira ouvir a música de seu fone); e que ele se levantara para dar lugar a uma senhora no metrô.
A Sirlene, sua colega de escritório e amante do Ariovaldo, estava curiosa com o comportamento da Lindalva.
- O que aconteceu, Linda?
- Acho que é paixão, viu... Vi um rapaz, lindo, no metrô. Nem sei o nome dele. Mas me apaixonei... – risos
- Ai menina! Segura hein! Queria eu estar como vc... – mais risos
Naquele dia, Lindalva não dormiu direito. Irriquieta. Virava-se na cama, tentanto reconstituir a face do homem pelo qual ela havia se apaixonado.
Naquela semana, Lindalva continuou pensando no homem. E no seu cavanhaque (com o qual tinha desejos impuros).
Na semana seguinte, recebeu um telefonema:
- Oi, meu nome é Fernando e... conheci uma garota no metrô... Lindalva... trabalhava na OpenMarket... eu vi no crachá... é você?
Lindalva se encheu de esperança. Só podia ser ele. Mas que coisa acontecera naquela tarde no escritório. Devia ser uma recompensa pela ajuda dada aos segurados aflitos que ganharam indenizações da OpenMarket, liberadas por ela, naquela semana.
- S-im, sim!
- Pois então... eu gostaria de me encontrar com você... seria possível?!
E marcaram o encontro. No Coffee Plaza, no shopping StilusPlaza. Naquele dia, Lindalva se maquiou com um toque a mais; vestiu uma linda saia branca com uma blusinha vermelha (tinha lido que a cor em questão era de “fundamental importância para alavancar a vida sentimental”) e um sapato de salto comprado para a ocasião. Ele estaria de jeans e camiseta branca.
Foi se aproximando do local marcado e viu de longe um rapaz vestido como o esperado... chegou perto, virou-se pra ele (ele estava de cabeça baixa, olhando para a xícara de café):
- Desculpe-me... sou a Lindalva...
O rapaz se virou pra ela e começou a rir. Não podia ser. Ela não acreditava. Teve um surto. Saiu chorando-correndo-gritando pelos corredores do shopping. E nunca mais voltou para o escritório ou para casa. Sumiu.
O pessoal do escritório ficou ainda comentando nos meses seguintes, nas rodas de confraternização às sextas-feiras, no “Bar do Alemão”:
- Como pode, hein? Sumir assim... o chefe realmente não deveria ter feito o Hernandez se passar pelo rapaz!
- Ah! Ou ela deixava o coração de lado ou a empresa ia à falência, né – risos na mesa
- Mas que foi engraçado foi... – mais risadas.
E a OpenMarket continuo seu rumo, assegurando “o melhor preço, a melhor cobertura e a maior rapidez”.

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D. Alzira disse que o texto está bom. Não perfeito-perfeito. Que dá pra melhorar. Mas não é de "todo perder tempo". Disse também que não deveria ter ironizado a ciência por trás das cores e das revistas de novela. Disse também que apreciou o apoio dos leitores quanto a sua recuperação da cirurgia nifrídica. E mandou dois beijos para cada um.
Eu, bem... eu mando um abraço... rs

Sorrisos e amenidades numa noite de Brasília

19.9.07 |

As risadas eram suficientemente altas para serem ouvidas de todo o salão do restaurante localizado na Asa Norte da capital nacional. A mesa estava cheia de comida e de pessoas (acredito que a comida era muito melhor que a companhia presente).
- Aposto que semana que vem vai estar uma corja de jornalista tentando conseguir entrevista com o senhor presidente.
- Que isso Waldir... deixa disso, me passa aí esse 12 anos! – um sorriso amarelado em contraste com a testa vermelha do sol de Alagoas.
D. Alzira estava sentada ao lado da mulher do Waldir. Conversavam sobre amenidades femininas, desde a masculinidade duvidosa do Jeferson Antunes (filho do senador Cabral Antunes) que fora visto saindo de um cinema na zona sul abraçado com um outro colega; até a nova moda primavera-verão.
O deputado Aristides Rebelo conversava com seu colega de bancada Sérgio Rangel sobre os rumores espalhados por outro escândalo sexual, desta vez “tradicional”. A mídia comentava que um dos senadores do partido de oposição foi visto saindo de um motel com a secretária de um deputado da direita. O debate era se aquilo fora apenas um passatempo sexual ou um caso de troca de informações partidárias.
O garçom, que servia a mesa, é conhecido por todos como Olivetto, moço jovem de seus 25 anos que trabalha naquele restaurante há uns 8 anos. Olivetto tem o ensino médio completo, acabou de se tornar papai de uma linda garota de 5 anos (“me ajuntei com uma amiga minha”) e tira cerca de 1200 reais mensais de salário e mais uns 800 em gorjetas. Diz que se trabalhasse em São Paulo não ganharia mais do que 600 reais; Brasília é “onde os bacanas gastam dinheiro”. Naquele momento, Olliveto servia algumas sobremesas para as mulheres.
- Adoro esse pavê! Perfeito menina.
- Confesso que minha empregada faz um bem melhor... por quê não vai lá no meu sítio um dia desses? Conhecerá os doces de minha empregada...
- Claro, mas primeiro tenho que esperar esse escândalo baixar um pouco – sorriu
Os relógios já indicavam 1 da manhã e as conversas (fúteis e/ou políticas) ainda não tinham se esgotado.
- Falei assim hoje pra ele: Não se dê por vencido. Seus amigos estão com você!
O senador, seu esposo, pode ouvi-la do outro lado da mesa:
- Amor... mas esperava mais... pensava que tinha mais amigos... e olhe só... 35 inimigos declarados.
Todos caíram na risada.
Olliveto observava a mesa com os olhos se fechando. Precisava tomar o último ônibus que passava pela avenida as 1h50´, e os senadores não demonstravam sinal de esgotamento.
A conversa aos poucos foi silenciando. Os sorrisos se tornaram mais raros. Talvez conseqüência do álcool ou dos charutos cubanos (importados especialmente para essa comemoração) ou talvez do dia “sufocante” que tiveram.
O senador Waldir ergueu seu copo, chamou a atenção de todos e tentou terminar a comemoração:
- Colegas, acho que por hoje é só. Não acham?
- Waldir, ta atrasado pra pegar o trem? – o senador anfitrião deu risada. Chamou o Olliveto – Meu querido, traga-nos mais uma rodada de bourbon... e de doces...
Todos os outros sorriram.
A comemoração foi até as 4 da manhã. Olliveto perdeu seu ônibus e o sono. Mas quanto aos outros... os outros já estavam prontos para quantos mais processos se abrissem naquela próxima semana... e pra quantos outros protestassem. “Aposto que vão encher o saco na Paulista”.
A lua era minguante e o céu escuro, o que contrastava com os sorrisos amarelados dos velhos senadores e dos diamantes de suas mulheres.

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N.A.: D. Alzira passa bem de sua operação nifrídica e já está retomando a participação em seus eventos sociais. Optou por não comentar esse texto por motivos pessoais, mas promete que o próximo não escapará (bom ou ruim?).

Respondam a enquete se puderem. Tks!

sem inspiração em absoluto

22.8.07 |

Tô sem inspiração. Pra nada. Então, quando eu tiver alguma inspiração... assim... que eu espero que volte em breve, eu escrevo...
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D. Arlinda pediu desculpas por ficar ausente nesse tempo... é que ela foi fazer uma cirurgia pra tirar umas pedras do rim... uma coisa assim... então ela tá de repouso... é isso!
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Cristina

20.7.07 |

Neo-bandeirantismo (idas de vindas de um viajante apaixonado pela diversidade)


Tanta gente passa por nós, e a gente nem aí. Gente que trabalha pra gente trabalhar... ou não... Segredos de São Paulo. Como os bastidores de uma grande peça de teatro...

“Sabe, eu não sei qual é o problema dessas máquinas, mas são tão burrinhas de vez em quando... Acredita que por vezes o trem não quer parar na estação? É! Ele vai parando devagarzinho e quando chega na entrada do túnel ele acelera e quer ir embora!”. Um sorriso lindo tinha na face. Cristina se aproxima da casa dos 30 anos, estatura mediana, olhos claros, cabelos loiros, longos e cacheados; e ostenta um pequeno brilhante na sua aliança na mão esquerda. Ela é maquinista da Linha Azul do Metrô-SP, a maior e mais movimentada linha. Começou a trabalhar há dois meses, depois de três treinando dia e noite, observando maquinistas mais experientes.

Cristina gosta do que faz. Diz que é muito bom se sentir útil para milhares de pessoas que usam o sistema metroviário. Sente uma grande alegria quando consegue fazer uma viagem sem transtornos, os quais são freqüentes na maioria dos casos.

Passei uns vinte minutos com ela. Ouvindo atentamente a tudo o que me dizia, desde o funcionamento do trem até “histórias nos trilhos”, que não são poucas. Ela arrumou uma banqueta para eu sentar ao lado dela. Uma banqueta até que confortável, estofada de couro sintético.

Durante esse tempo, ela me mostrou com uma didática incrível os comandos do trem (já até posso roubar um trem, vamos nessa? rs) Tudo é fascinante. Mas a simpatia dela foi mais do que tudo.

Simpatia essa que não nos pode ser passada. “As mensagens dadas aos usuários tem que ser padrão. Nenhum maquinista pode personalizar a sua.” me contou com um certo desapontamento no olhar. Todas esses avisos devem ser dados, rigorosamente, de acordo com uma planilha afixada no painel. Mas confesso que enquanto conversávamos, as mensagens foram deixadas de lado.

Mas nem de mensagens aos passageiros consiste o trabalho do maquinista. Ele tem que controlar o embarque/desembarque de passageiros pelo espelho ou câmera da estação, e tomar cuidado (e muito) para que os acidentes não aconteçam com tanta freqüência. Além das falhas que o trem apresenta - como não querer parar nas estações (o máximo isso, não é mesmo?); têm também os problemas antropológicos: dos acidentes, como cair na linha ou deixar cair algum objeto nela; aos casos de suicídio, que não são raros. Por essa razão, quando chegávamos a uma estação ela logo posicionava sua mão na alavanca de freio de emergência. Atenção para evitar traumas. Traumas como de seu colega Valdir.

Valdir é um outro maquinista, casa dos quarenta anos, que hoje ainda lembra da moça que perdeu a vida ao cair na frente de seu trem. O choque não passou. E ele não é o único. “Têm alguns que nunca mais voltam à ativa”.

Nem um descanso. Pelo menos por cinco viagens (ida e volta) na linha. Só depois disso, têm-se um break de alguns minutos. Caso contrário, é sair de um trem, no ponto final e pegar outro. Há todo um ritual pra isso, que inclui mudança de inúmeras chaves, retirada de manivelas e outras coisas. Um ritual que só eles sabem fazer. Acho que é pra manter um clima de mistério.

Outro clima de mistério é o Centro de Controle. Uma grande sala, com grandes telões cheios de pontos piscando e correndo em linhas paralelas... com algumas pessoas sentadas em computadores apertando freneticamente botões. Distante e num patamar superior a elas, um japonês, o sr. Osama (presumo – permito que você escolha um nome para ele), que não apertava nada. Nem fazia nada. Mas conversava com um outro operador. Supus que ele era o chefe. Será que foi preconceito meu?

No fim de tudo “desço na Luz” e ela me pergunta se eu não quereria ir com ela até o outro ponto final. Digo que não, que precisava mesmo ir. Precisava mesmo. “Então vai lá, que eu seguro aqui a porta pra você.” mais um sorriso. Sai da cabina. Acenei pra ela quando estava na plataforma e peguei a próxima escada rolante... facilitam tanto a vida. E o trem se foi pelo túnel... como sempre o faz.

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D. Alzira, nossa participante do blog, censurou uma parte do texto, por que ela acha que foi mentira da Cristina quando disse que as pessoas usam o freio de emergência para que o trem pare próximo da escada rolante da estação. D. Alzira acha que isso foi pessoal, e que ela tem o direito de fazer o que quiser por que é amiga da primeira-dama. Ah! E D. Alzira achou o texto um pouco grande e pede desculpas por mim...

Toninha

9.7.07 |

Neo-bandeirantismo (idas de vindas de um viajante apaixonado pela diversidade)

Ela tem um pouco mais de 1,5 m de altura e pesa cerca de 65kg. Em seu guarda-roupa existem cerca de dez vestidos, no entanto ela usa apenas dois – segundo ela, os outros são pra atividades festivas (as quais dificilmente ocorrem). Não usa sapatos em hipótese alguma. Seu nome é Maria Antônia, conhecida pelo povo de Cachoeira de Cima (interior de São Paulo) como Toninha.

Ela é um exemplo entre tantos estereótipos que encontramos por esse Brasil afora. Toda vez que me encontro com ela, ela abre um sorriso enorme (mostrando alguns dentes faltando em sua prótese dentária) e grita pra mim. Ela não sabe meu nome e tem problemas em falar e ouvir. Mas gosto dela e de seu jeito simpático de ser. Foram raras as vezes em que a vi sem o lenço encardido na cabeça. Segundo uma amiga dela, ela não sai de casa sem o lenço. Nunca o lava. E gosta de arruma-lo sempre que fica incomodada ou nervosa. Toninha tem 87 anos muito bem vividos. Seu príncipe encantando nunca chegou, apesar das más línguas dizerem que lá pelos seus 72 anos tenha tido um caso com um bóia-fria da região, o Cássio. Até então: ela é casta.

Cássio trabalhou na principal fazenda da região por cerca de 20 anos, conseguiu se aposentar e hoje vive num asilo na cidade vizinha. Ganha um salário mínimo assim como Toninha. O asilo fica com 85% do salário, o restante dá para ele gastar no que quiser. Passa as tardes a beber uma única dose de pinga, preparando seu fumo e contando histórias para outras tantas pessoas que tem histórias de vida semelhantes. As histórias nunca são contadas da mesma forma. Daí a graça em contá-las e ouví-las.

Toninha apesar de se alimentar de uma maneira não muito adequada e não portar hábitos de higiene muito rígidos, nunca foi a um hospital por problemas graves. Não tem triglicérides ou colesterol. É lúcida como uma jovem de 20 anos. E vive numa casa construída há mais de um século (com alguns reparos no telhado, devido as chuvas torrenciais que vêm ocorrendo na região). Varre sua casa todos os dias pela manhã (as 5 da manhã pra ser exato). Tem um colchão com algumas dezenas de anos no qual, segundo ela, “dorme muito bem”.

Todos os dias, Toninha sai pra passear pela redondeza. Passa o dia fora de casa, e aonde ela vai é recebida com alegria pelos moradores que lhe oferecem comida. Há alguns anos atrás era capaz de cozinhar sozinha, mas agora com sua visão piorando não pode mais. Come arroz, feijão, farinha salada e quando lhe oferecem ovo ou carne. Nos dias de festa toma refrigerante Bacana, “de guaraná por que é mais gostoso”. Volta a noite pra dormir. Toninha não toma banho com freqüência, sua mãe lhe ensinou que tomar muito banho faz mal a saúde... (idade média brasileira? rs) mas os pés são lavados. Afinal, anda mais de 3km por dia, descalça.

Na primeira vez que a encontrei, meu pai achou nela uma felicidade transparente. Todos acharam. Sua simplicidade mostrava o quanto era feliz. Meu pai na época resolveu lhe comprar um sapato. Todos o avisaram “Ela não vai usar... anda assim há 80 anos... nunca aconteceu nada...” Dito e feito. Ele comprou e deu a ela. Ao que ela respondeu “Ah... brigada... sapato? Bonito. Mas eu não vou usar. Esquenta meu pé” E ela nunca o usou.

Todo início de mês o seu procurador (um fazendeiro da região) vai ao banco sacar o seu salário. Se ela recebe devidamente o que o governo paga para ela de fato ninguém nunca se atreveu a perguntar. Mas ela recebe um dinheiro. Não gasta mesmo...

Até alguns anos atrás, morava com seu irmão Zé Maria, que morreu dormindo. Um sujeito tão simpático quanto ela. Nunca teve mulher, não deixou legado.

Toninha é uma das pessoas mais bonitas que já conheci. Bonita por seu jeito de ser, de se vestir e de se perfumar para ir a igreja aos domingos (quando a igreja está aberta e o dia está bonito) ou a alguma quermesse quando tem. Ela é feliz por ser. E ponto final.

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D. Arlinda, nossa participante do blog, não gostou do texto. Achou ele ridículo. Acredita que o texto ficaria melhor se fosse de alguém importante... disse pra ela que o Renan Calheiros não queria me dar entrevista... mas ela insistiu... e me chamou de idiota "Renan? Ele não é importante! Por que vc não perguntou para o Fábio Assunção? Hein?". É, a vida é mesmo um Paraíso Tropical pra algumas pessoas...

apresentando uma ilustre convidada

16.6.07 |

conversa informal
Eu sei que poucos de vcs realmente ligam para o que eu escrevo ou deixo de escrever, e é exatamente para essa minoria que ainda insisto em escrever nesse blog...

Decepções dessa vida a parte, acredito que temos que colocar os carros de boi pra andar (não que boi tenha qualquer relação com cornos, propriamente dito) caso contrário nossa carroça não sairá do lugar...
E pensando nos bois e na carroça como um todo, volto a escrever. Volto a pelo menos tentar. rs. Mas só semana que vem. Por enquanto, mensagem da d. Arlinda (a nossa nova participante do blog).
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filosofias pitorescas da d. Arlinda
"Pareceria propaganda da Brastemp. Mas, afinal, qual é o seu lado B?"
Respondam!!

paixão irreal

14.5.07 |

Ele se apaixonou por ela. Sabia que não teria chance alguma. Mas isso não importava.

A paixão dominara sua mente. Não tinha falado com ela ainda, mas jurava que sua voz era a mais bonita de todas. Nem ao menos se aproximado, estava a vendo ao longe mas era como estivesse ao seu lado.

- Senhor, vai beber alguma coisa?

O avião estava com pouca gente. A aeromoça muito educada repetiu mais uma vez para que ele voltasse de seu país de sonhos.

- Sim... café...

A aeromoça o serviu numa xícara branca com o logotipo da companhia aérea.

- Você sabe se aquela moça – apontou com o dedo o assento da mulher – está acompanhada?

A atendente não entendeu muito bem aonde tudo iria levar.

- Acredito que não, senhor. Ela entrou sozinha no avião.

- Está bem, obrigado.

Agradeceu como se agradece a qualquer outro favor. A poltrona ao lado de sua mais nova paixão estava vaga. Passou metade da viagem pensando se teria coragem de se sentar lá e conversar com ela. Acreditava que não era capaz daquilo. Passou então a outra parte da viagem se lamentando por sua covardia.

O avião pousou com tranqüilidade e já era noite. Observou a saída daquela moça... tentou acompanha-la, mas por infelicidade teve que pegar um outro ônibus para conduzi-lo ao saguão. E então a perdeu de vista.

Ele nunca mais a viu. Levou alguns meses para esquecê-la até que a esqueceu. E aí, surgiu outra, e outra, e outra. Com a mesma duração e a mesma intensidade. Todas irreais.

the thief

14.3.07 |




O maior ladrão do mundo (ou seria
ladra?)

- São 12 bilhões!
Ele estava atônito! Nunca tinha roubado tanto em seus 35 anos de profissão
- Quem diria, hein, Emília?! O garotinho que tinha seu lanche roubado todo dia no primário, hoje é o maior ladrão do mundo!! - gargalhava
Emília não fazia cara de contente. Continuava fumando seu cigarro e observando o mar, que ia-e-vinha.
- O que te acontece, hein? – o maior ladrão da história queria que sua eterna amante sentisse a mesma felicidade que ele. Mas não se podia ter tudo.
- Nada – e continuava a olhar o mar... e as ondas que nem tanta força tinham.
Ele pegou um cigarro do maço que estava em cima da mesa, pegou o isqueiro.
- Emília... – olhou nos olhos castanhos dela – São 12 bilhões! Dá pra comprar tudo o que você quiser!
O cigarro dela acabou.
- Você sabe por que eu não estou contente? – ela voltou sua cabeça para a direção do mar
- Não... não tenho idéia... mas por que não me conta?
Barulhos de sirene ao longe. Passou pela sua cara certa apreensão. Acendeu o cigarro que tinha na mão. Sentiu a nicotina entrar em seus brônquios.
- Por que você comete erros simples...
- Como qual? – sorriu... cigarro no canto da boca
Ela tirou um revólver que estava escondido em sua cintura.
Os olhos dele se voltaram pra ela apreensivos. Tirou o cigarro e o segurou com a mão:
- Emília... o que está fazendo? Hein?
- Como confiar em alguém.
Sorriu mais uma vez... e atirou no lado esquerdo do peito do homem. Caiu duro no chão. Ela checou os sinais vitais. Tudo certo: ele não mais sofreria.
Ela não gostava mais dele. Ela gostava agora de diamantes. Pegou as maletas de jóias do maior ladrão do mundo, e saiu pela porta da frente do flat à beira-mar. O táxi a esperava em frente ao hotel.

mr. gil

9.3.07 |

O texto que segue é uma espécie de comédia privada (por falta de expressão melhor), ou seja: se vc não conhece nosso personagem - Mr. Gil - provavelmente não verá graça nenhuma, mas se quiser continue em frente. Pra quem já conhece essa figura... boas risadas... e comentem, hein! Até mais!
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Negócio das arábias


Era uma tarde quente e eu estava num daqueles hotéis baratos ao sul de Teerã, capital do Irã. Alguns árabes tinham me ligado e pedido que eu fosse a um determinado lugar pra realizar certo negócio. O encontro seria às 7 da noite... eram ainda 5 da tarde... resolvi tomar uma ducha pra me refrescar, logo depois assisti um pouco da minha recém-comprada rede de TV (a qual tinha dado como nome DaxTv, porém os homens do Talebã falaram que era um nome muito esquisito e resolveram deixar AlJazeera) mas a programação tava muito fraca. Lembrei então dos tempos em que a Mesopotâmia estava sendo vendida (por mim, obviamente) em lotes... ah sim! Aqueles tempos eram bons...!! Passei cerca de uma hora lembrando de minhas aventuras por aquelas terras. Às 6h30´ sai para o encontro: um café numa das avenidas da cidade. Eles estavam numa das mesas ao fundo, fui de encontro a eles, fiz os devidos cumprimentos e sentei-me:

- Então cavalheiros... o que vão querer? – perguntei aos três homens que sentavam a minha frente

- A gente távamos pensando Gil... pensando se você não podia arrumar pra gente umas – baixou o tom de voz – brasileiras, ah! – o homem de roupa preta sorriu discretamente, levantando a sobrancelha

- Hum... você diz, mulatas...? – Mr. Gil já começou a pensar nas meninas da casa da D. Lourdes (amiga dos tempos de bordel)

- Não. Não, Gil. Those que você fornecia ao Kennedy... – o português deles não era muito forte

- Aquele rapaz que morreu baleado?

- Yes

- Não. Nunca forneci pra ele isso... foi pro anterior dele... não me lembro o nome... mas então... eram mulatas

- Hum... e você consegue as mulatas, então?

- Claro! Você está falando com o Mr. Gil... e acho que consigo umas boas peças a um precinho especial...

Os três homens sorriram da forma mais contida possível. Lançaram na mesa um saco de pano. Eu o conferi... é... os diamantes eram todos verdadeiros... cerca de 500 mil dólares em pouco mais de 30g daquelas pedrinhas brilhantes...

- Pois bem, senhores. Vocês receberão a encomenda em no máximo 15 dias... hein...

Estava saindo do café, quando lembrei de uma oferta imperdível aos meus novos clientes. Voltei para eles:

- Ei, vocês não querem comprar uma rifa? Tá num preço imperdível!

- How much?

- 12 mil o número

- E do que que é?

- Dois aviões lindos... da American AirLines... eles estavam tentando vender...

O homem de roupa branca pensou um pouco. Sorriu. E disse:

- Me vê todos os números aí, please...

Eu raiei de felicidade.

- Então os aviões já são seus, hein. Faz o seguinte. Vai pra NY e pegue os aviões lá no aeroporto. Certo? Assim você não tem que me pagar o frete... – e mostrei o meu discreto dente de ouro no canto da boca

- Muito bem, Mr. Gil. Você é the besta!

- Que isso, Osama. Você é mais do que eu... – aproveitei-me do trocadilho do árabe

E sai do café feliz da vida.

Tese 21: O 11 de setembro só foi trágico, por que o Mr. Gil rifou os aviões pra gente mal intencionada...

next time

3.3.07 |

Breve ensaio de como o Ego conquista cada vez mais a sociedade capitalista.


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Quando o Ego venceu a Sandrinha

O bolo tava ruim, o café nem tanto, mas a conversa tava boa.
- Então, Arnaldo. Você vai?
- Tava pensando, Sandrinha, se não era melhor deixar para uma próxima vez... sabe, tô muito inseguro...
- Deixa disso, homem! Inseguro pelo que? Você consegue num instante! Sabe do que mais... além disso... se não der certo... pelo menos você tentou... não é mesmo?
- Não! Não é! Tentar não vale de nada...
- Não é uma questão entre quem vence ou quem perde... mas entre tentar ou não...
- Muito pessimista isso... é uma questão sim por vencer! Aliás... dona Sandra... o que a gente não faz por vencer?
Sandra pensou. Pensou mais um pouco.

- É... talvez seja melhor deixar para uma próxima...

o porque

25.2.07 |


Como percebi, as pessoas não apreciam muito o politicamente incorreto... sendo assim... como minha mente está numa fase de transição para alguma coisa mais correta e não quero deixar o blog parado... aí vai uma charge... mais para os comentários do que para as risadas... Então: espero que comentem.


mitomanismo

20.2.07 |


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A Revista Piauí lançou uma promoção nesse mês que estamos: um concurso literário. Como ela já tinha avisado era um concurso "a ser colocado nas últimas páginas da revista. E tem como objetivo, única e exclusivamente, entreter o leitor assíduo que paga uma fortuna por textos bem escritos, mas que no fim serve para maltratá-lo." Resolvi criar um texto (5 minutos)... não ficou muito bom... no site da revista tem outros muito mais legais... mas achei legal...

A propósito, mitômano é uma pessoa que mente mas nunca admite... acaba por querer acreditar que sua mentira é verdadeira sob todos os aspectos...

Bônus especial

- Você tá dando mais atenção pra ela do que pra mim, Carlos Eduardo! Desse jeito não dá!

- Glorinha... o que posso fazer se é das gordinhas que “eles” gostam mais? – Alice soltou uma risada sarcástica e logo depois acendeu seu cigarro

Para o Carlos Eduardo a cama não era mais lugar de aventuras eróticas e contos de fada... já estava virando uma zona de guerra. Quando pensou em ir morar com as duas não tinha pensado na possibilidade de que depois de alguns anos iria gostar mais do corpo de uma do que da outra...

- Meninas, parem com isso... gosto das duas na mesma intensidade... é que hoje to me sentindo um pouco cansado... tive um dia e tanto... clientes ligando para o escritório.. chefe enchendo o saco... e teve um cara que entrou no departamento apontando uma arma pra cabeça da Mariazinha, a faxineira... coitada...

- O quê? – Alice colocara o cigarro no cinzeiro e voltou-se para ele... apoiando seus seios contra o peitoral do Carlos... Glorinha não deixou barato... começou a mexer com os pelinhos do púbis do amante...

- É! Foi uma história longa... até o GOE da civil passou por lá... não viram no jornal que o trânsito da Paulista foi bloqueado por causa disso? – olhou pra Alice com uma verdadeira cara de mentiroso, e logo virou-se pra Glorinha e soltou um risinho entre os lábios... aprovando os movimentos indecentes daquela loira de 1,70m

- Como bloqueado, Carlos Eduardo? – Alice estava perplexa... o seu grande amor quase morrera naquele dia e ela estava querendo que ele se desdobrasse em mais posições naquela noite...

- Fecharam a rua... com medo de que ela explodisse uma bomba... disse que ela tinha uma bomba também, não disse?

As duas ergueram as sobrancelhas.

- Ainda bem que eu tirei a arma dela... quando ela tava olhando para o Luiz Augusto... ela nem percebeu... mas eu tirei...

Os olhos da loira saltitaram:

- Não acredito amor...! Você fez isso?! Isso vai te dar um bônus especial! – e foi descendo sua cabeça pelo abdome do seu homem

- Deixa de ser besta, Glória! – Alice deu um tapa na cabeça dela... – o Carlos Eduardo é mitômano!

- O quê? – a loira voltou o olhar para sua companheira de aventuras...

- Mas Alice, eu já disse que não sou mitômano! – protestou o homem com medo de perder o “presente” da sua loira

Alice fez cara de quem conhecia a história... voltou para o seu cigarro... e quanto a Glorinha... gostou da palavra... achou que era uma grande qualidade... e foi dar ao seu herói o prometido bônus especial...

horoscopiando

16.2.07 |

Aquário

(21 de janeiro a 19 de fevereiro)

Quem inventou esse lance de astrologia deveria ser mesmo sem criatividade alguma: já não bastou criar Peixes, resolveu nomear um outro signo com (...) Aquário... dã! Quando criança ficava pensando se o signo de Peixes era um sub-signo de Aquário... quando descobri que era independente (e que não existia esse lance de sub-signo) não me conformei “como é que o peixe poderia ficar fora do aquário?”

Características: o aquariano é presunçoso e vive nas costas dos outros. Não gostam muito de trabalhar e tem uma queda por programas de baixo nível (entenda como quiser). São geralmente encontrados em repartições públicas.

Futuro próximo: na medida em que a poluição das águas vem crescendo, não têm uma perspectiva muito certa do que serão (e se serão). Tudo dependerá da oxigenação da água, é claro!

Amores: aquarianos nunca transam! Pelo menos não como os de Escorpião (com toda uma dança orquestrada por 48h, quando no final o macho morre) ou os de Leão, mamíferos ingratos. Mas sempre sonham com um amor próximo, amigo... sempre sonham... mas só isso. (na verdade o mar está para peixe, e não para aqueles...)