Numa ilha não tão deserta, em algum lugar desses mares, havia uma tribo. Uma tribo canibal. Havia também um grupo de náufragos do último cruzeiro de uma agência de viagens brasileira (não que isso implique...). Um grupo pequeno: cerca de 12 pessoas. Não vou lhes explicar o que se sucedeu com as outras 2345... isso não nos convêm...
As doze pessoas que ali se encontravam na praia, trazidas pelas ondas, juntamente com seus coletes salva-vidas (e que até ali cumprira a sua função) não se conheciam. Entretanto tinham muito em comum: pagaram sua viagem em dez vezes no cartão mais aceito do mundo (por que segundo a companhia: a vida é agora); foram com as suas famílias para uma viagem de sete noites e seis dias pra se divertir com muitos coquetéis etílicos, baladas no balanço do mar e “ocasionalmente” fazer compras pelos grandes-minis-shoppings do navio.
Um deles era um garoto que trazia mensagens publicitárias na camiseta (o que no mundo dele se traduzia como ostentação de poder e luxo), mais alguns anúncios na bermuda e por pura coincidência (ou escolha) um pequeno detalhe do marketing moderno no tênis que não saíra do pé.
Havia também umas cinco mulheres, todas entre os seus 25 a 38 anos. As mais velhas carregavam uns três quilos de ouro nos seus dedos e pescoços; um histórico de operações plásticas; alguns litros de silicone espalhados pelo corpo (sim, pelo corpo); e mililitros de “botulina enfraquecida” no rosto “para dar uma remodelada”; uma bagagem intelectual baseada em revistas de famosos; e claro: antes do naufrágio estavam rodando pelas lojas do centro comercial do navio... ávidas pelo consumo.
É óbvio que ali também estavam homens, fortes e poderosos. Seja pelo dinheiro, seja pelo capacidade de engabelação das companhias de cartões de crédito...
Tinha também um gay. Óbvio. Não era nem tão poderoso quanto os homens; nem tão sexy quanto as mulheres “remodeladas”. Mas era uma figura simpaticíssima.
Quem acordou primeiro de todos (e tenha em sua mente a típica paisagem de ilhas desertas de acordo com o pólo mundial de produção de filmes: sol, gaivotas, o indivíduo cuspindo água... lero-lero) foi o garoto. Acordou, olhou em volta e começou a chorar.
Com o choro, as mulheres também acordaram... e também começaram a chorar... afinal, o cabelo estava ressecadíssimo; a roupa, uma sujeira só; e a areia incomodava partes que não deveriam ser incomodadas.
Os homens também despertaram... olharam ao seu redor... não havia nada de civilizado. Um guardava uma mini-garrafa de whisky no paletó italiano... bebeu de um só gole. Os outros o invejaram.
O fato é que os canibais (lembra? do começo da história?) espreitavam aqueles seres por detrás das árvores e coqueiros (mantenha em sua mente o cenário hollywoodiano, por favor!) famintos. Vorazes, saíram detrás da vegetação em direção ao grupo. Capturaram a todos.
Após o banquete que se fez com os náufragos, o líder da tribo balbuciou alguns comentários quanto ao tipo de músculo que as mulheres tinham em certas partes do corpo... o fígado inexistente de alguns homem... e anomalias no corpo do rapaz que se vestia de rosa... mas, o que mais impressionou foi o tênis que o garoto trazia: isso era especial.
O líder ao avistar tal artefato (místico?) se propôs a usá-lo assim como o garoto: no pé. Adorou. Foi um momento de paixão que se aflorou no coração do velho canibal. O pé se encaixava perfeitamente, era a prova d´água... e o mais importante: ele ficava mais alto... dava a impressão de que se pisava sobre molas afim de amortecer o andar. Nunca mais tirou do pé. Quando ele morreu, o seu sucessor tomou para si o místico objeto. Deliciou-se... e assim se faz até hoje naquela comunidade.
Ocasionalmente, aparecem mais alguns náufragos para que os canibais se fartem. Curiosamente, são sempre turistas da mesma agência de viagens... brasileira...
Diz-se por aí (e quando digo “aí” não me refiro a mídia global-nacional ou aos comentários a bordo dos transa-atlânticos) nas escuras, que é um acordo entre as partes: a companhia se livra dos indesejáveis nos cassinos, e os canibais dão um jeito dos supostos náufragos nunca mais aparecerem em parte alguma.
Mas apenas se diz por aí... não se sabe... afinal, histórias de ilhas desertas são sempre fantásticas... e qual a probabilidade de um índio querer usar tênis hoje em dia? Bem... vamos dizer que são novas as ilhas... e que são outras as metáforas... são paraísos...

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Eu lhes apresento o texto do sr. Alcides de Oliveira... novo colaborador do blog. Acredito que ele se apresentará mais freqüentemente, embora só escreva quando a D. Alzira não está para criticar seus textos (como hoje: ela está em férias na Europa). Peço que comentem. Abraços.

considerações acerca do que se passa

7.3.08 |

não entrarei em detalhes minuciosos, nem prolongados discursos marqueteiros. o fato é que a inspiração não veio. não por não vir, mas por que não fiz grande questão de buscá-la.
razões me defendem de seu mal julgamento: a vida muda quando você muda a vida. e por mais redundante que isso pareça ser, não há nada mais simples e objetivo afim de explicar por todas (tantas) coisas que me vêm ocorrendo nessas últimas semanas.
tenho a plena certeza que você, fiel leitor e comentarista afamado (talvez até desiludido sexualmente, buscando a compensação nas inquietudes virtuais) continuará esperando. por que eu esperarei, sim. até que a inspiração chegue (e pra isso pago Sedex, sempre) ou que ela desista de mim.
mas de verdade, não acredito na segunda hipótese.
até caros amigos!

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D. Alzira quer mostrar a sua consideração para comigo, de modo que pede "tenham paciência com ele. gênio nada fácil. certamente escreverá em breve.". eu me emociono. vc nem liga. mas ainda amigos...