Lindalva e a OpenMarket Seguradora

1.11.07 |

Ela nunca tinha visto o rapaz, mas quando viu, apaixonou-se. Não tinha o tirado da cabeça. Passara o dia inteiro no trabalho lembrando do seu cavanhaque, da sua camiseta lilás e de suas pernas atléticas (ele estava de bermuda naquele dia). Mas seu chefe não se agradara com aquele comportamento “aéreo” de sua funcionária.
- Lindalva?! Lindalva?!
Ela se virou pra ele:
- Sim, senhor
- Lindalva, o que acontece? É a segunda vez, só hoje, que você decidiu dar a indenização à um segurado. Você sabe que é política da empresa não indenizar, Lindalva. Você sabe que temos todos os meios e subterfúgios para não indenizar o cliente, não sabe Lindalva?
- Sei, sim senhor.
- Você leu as linhas miúdas aos fins dos contratos, Lindalva?
- Sim, senhor
- Então me diga por que raios você está dando indenizações hoje, Lindalva!
- Uma indigestão
- Indigestão, Lindalva?! Quer um antiácido, Lindalva?
- Acho que não resolveria. Mas já já melhoro, senhor Ariovaldo.
- Espero que sim, Lindalva! – virou-se para um outro funcionário no outro lado da sala e gritou – Oh, Fernandez! Você...
Lindalva tinha se apaixonado pelo rapaz e nem ao menos sabia seu nome. Sabia que ele era bonito; que gostava de rock (conseguira ouvir a música de seu fone); e que ele se levantara para dar lugar a uma senhora no metrô.
A Sirlene, sua colega de escritório e amante do Ariovaldo, estava curiosa com o comportamento da Lindalva.
- O que aconteceu, Linda?
- Acho que é paixão, viu... Vi um rapaz, lindo, no metrô. Nem sei o nome dele. Mas me apaixonei... – risos
- Ai menina! Segura hein! Queria eu estar como vc... – mais risos
Naquele dia, Lindalva não dormiu direito. Irriquieta. Virava-se na cama, tentanto reconstituir a face do homem pelo qual ela havia se apaixonado.
Naquela semana, Lindalva continuou pensando no homem. E no seu cavanhaque (com o qual tinha desejos impuros).
Na semana seguinte, recebeu um telefonema:
- Oi, meu nome é Fernando e... conheci uma garota no metrô... Lindalva... trabalhava na OpenMarket... eu vi no crachá... é você?
Lindalva se encheu de esperança. Só podia ser ele. Mas que coisa acontecera naquela tarde no escritório. Devia ser uma recompensa pela ajuda dada aos segurados aflitos que ganharam indenizações da OpenMarket, liberadas por ela, naquela semana.
- S-im, sim!
- Pois então... eu gostaria de me encontrar com você... seria possível?!
E marcaram o encontro. No Coffee Plaza, no shopping StilusPlaza. Naquele dia, Lindalva se maquiou com um toque a mais; vestiu uma linda saia branca com uma blusinha vermelha (tinha lido que a cor em questão era de “fundamental importância para alavancar a vida sentimental”) e um sapato de salto comprado para a ocasião. Ele estaria de jeans e camiseta branca.
Foi se aproximando do local marcado e viu de longe um rapaz vestido como o esperado... chegou perto, virou-se pra ele (ele estava de cabeça baixa, olhando para a xícara de café):
- Desculpe-me... sou a Lindalva...
O rapaz se virou pra ela e começou a rir. Não podia ser. Ela não acreditava. Teve um surto. Saiu chorando-correndo-gritando pelos corredores do shopping. E nunca mais voltou para o escritório ou para casa. Sumiu.
O pessoal do escritório ficou ainda comentando nos meses seguintes, nas rodas de confraternização às sextas-feiras, no “Bar do Alemão”:
- Como pode, hein? Sumir assim... o chefe realmente não deveria ter feito o Hernandez se passar pelo rapaz!
- Ah! Ou ela deixava o coração de lado ou a empresa ia à falência, né – risos na mesa
- Mas que foi engraçado foi... – mais risadas.
E a OpenMarket continuo seu rumo, assegurando “o melhor preço, a melhor cobertura e a maior rapidez”.

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D. Alzira disse que o texto está bom. Não perfeito-perfeito. Que dá pra melhorar. Mas não é de "todo perder tempo". Disse também que não deveria ter ironizado a ciência por trás das cores e das revistas de novela. Disse também que apreciou o apoio dos leitores quanto a sua recuperação da cirurgia nifrídica. E mandou dois beijos para cada um.
Eu, bem... eu mando um abraço... rs