perdeu-se? talvez.

3.6.09 |

um dia, passeando tarde da noite pela avenida grande e rica, deparou-se com ela.
ela tinha o abandonado há algum tempo. tempo demais. tempo de menos. estava séria. esperava não sabia o quê e nem se esperava - ao terceiro que ali passava?
ele ainda era o mesmo. ainda. mudara quase nada. não pensara mais sobre si ou sobre o que faria dali em diante. lembrou da nota de guardanapo que escrevera em um bar ao som de um jazz suave e ao sabor de uma bebida forte. pensou em falar com ela. mas ela já era tão aquela.
aquela era linda e radiante. ria das coisas mais bobas. ria como riem as musas de Dionísio - ao menos, ele assim imaginava. um sorriso doce. um sorriso que custara procurar e quando encontrara, teve para si.
e como sempre em sua vida, continuou pensando. e imaginando. e criando. e formando expectativas e um mundo de ilusão. por que a ilusão lhe era doce. e nesse meio tempo, um carro se aproximou do meio-fio daquela avenida - tão pequena e pobre - e ela se foi com ele.
nunca mais quisera vê-la? mentira. sempre quis. e agora, quando a viu - toda mudada e com um sorriso contido (para ele ou para ela?) - não quis tocá-la. ficou com medo de que ao toque toda a ilusão se quebrasse.

e não valia a pena perder aquele sabor doce. tão antigo. tão íntimo.

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Há mais ou menos um ano, o Sr. Alcides de Oliveira escrevera aquela nota em um guardanapo (há um link no texto pra quem quiser relembrar) e há umas semanas ele me contou sobre o que veio depois do "perdeu-se?". simplesmente achei que tinha que dividi-lo com vocês. às vezes, tudo o que a gente quer é saber o que vai acontecer...

e quanto a mim: esqueci-me do gosto doce. o sabor da vida é como ele é. e aprendi que é assim. e que é bom assim... vivê-la como é.