Toninha

9.7.07 |

Neo-bandeirantismo (idas de vindas de um viajante apaixonado pela diversidade)

Ela tem um pouco mais de 1,5 m de altura e pesa cerca de 65kg. Em seu guarda-roupa existem cerca de dez vestidos, no entanto ela usa apenas dois – segundo ela, os outros são pra atividades festivas (as quais dificilmente ocorrem). Não usa sapatos em hipótese alguma. Seu nome é Maria Antônia, conhecida pelo povo de Cachoeira de Cima (interior de São Paulo) como Toninha.

Ela é um exemplo entre tantos estereótipos que encontramos por esse Brasil afora. Toda vez que me encontro com ela, ela abre um sorriso enorme (mostrando alguns dentes faltando em sua prótese dentária) e grita pra mim. Ela não sabe meu nome e tem problemas em falar e ouvir. Mas gosto dela e de seu jeito simpático de ser. Foram raras as vezes em que a vi sem o lenço encardido na cabeça. Segundo uma amiga dela, ela não sai de casa sem o lenço. Nunca o lava. E gosta de arruma-lo sempre que fica incomodada ou nervosa. Toninha tem 87 anos muito bem vividos. Seu príncipe encantando nunca chegou, apesar das más línguas dizerem que lá pelos seus 72 anos tenha tido um caso com um bóia-fria da região, o Cássio. Até então: ela é casta.

Cássio trabalhou na principal fazenda da região por cerca de 20 anos, conseguiu se aposentar e hoje vive num asilo na cidade vizinha. Ganha um salário mínimo assim como Toninha. O asilo fica com 85% do salário, o restante dá para ele gastar no que quiser. Passa as tardes a beber uma única dose de pinga, preparando seu fumo e contando histórias para outras tantas pessoas que tem histórias de vida semelhantes. As histórias nunca são contadas da mesma forma. Daí a graça em contá-las e ouví-las.

Toninha apesar de se alimentar de uma maneira não muito adequada e não portar hábitos de higiene muito rígidos, nunca foi a um hospital por problemas graves. Não tem triglicérides ou colesterol. É lúcida como uma jovem de 20 anos. E vive numa casa construída há mais de um século (com alguns reparos no telhado, devido as chuvas torrenciais que vêm ocorrendo na região). Varre sua casa todos os dias pela manhã (as 5 da manhã pra ser exato). Tem um colchão com algumas dezenas de anos no qual, segundo ela, “dorme muito bem”.

Todos os dias, Toninha sai pra passear pela redondeza. Passa o dia fora de casa, e aonde ela vai é recebida com alegria pelos moradores que lhe oferecem comida. Há alguns anos atrás era capaz de cozinhar sozinha, mas agora com sua visão piorando não pode mais. Come arroz, feijão, farinha salada e quando lhe oferecem ovo ou carne. Nos dias de festa toma refrigerante Bacana, “de guaraná por que é mais gostoso”. Volta a noite pra dormir. Toninha não toma banho com freqüência, sua mãe lhe ensinou que tomar muito banho faz mal a saúde... (idade média brasileira? rs) mas os pés são lavados. Afinal, anda mais de 3km por dia, descalça.

Na primeira vez que a encontrei, meu pai achou nela uma felicidade transparente. Todos acharam. Sua simplicidade mostrava o quanto era feliz. Meu pai na época resolveu lhe comprar um sapato. Todos o avisaram “Ela não vai usar... anda assim há 80 anos... nunca aconteceu nada...” Dito e feito. Ele comprou e deu a ela. Ao que ela respondeu “Ah... brigada... sapato? Bonito. Mas eu não vou usar. Esquenta meu pé” E ela nunca o usou.

Todo início de mês o seu procurador (um fazendeiro da região) vai ao banco sacar o seu salário. Se ela recebe devidamente o que o governo paga para ela de fato ninguém nunca se atreveu a perguntar. Mas ela recebe um dinheiro. Não gasta mesmo...

Até alguns anos atrás, morava com seu irmão Zé Maria, que morreu dormindo. Um sujeito tão simpático quanto ela. Nunca teve mulher, não deixou legado.

Toninha é uma das pessoas mais bonitas que já conheci. Bonita por seu jeito de ser, de se vestir e de se perfumar para ir a igreja aos domingos (quando a igreja está aberta e o dia está bonito) ou a alguma quermesse quando tem. Ela é feliz por ser. E ponto final.

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D. Arlinda, nossa participante do blog, não gostou do texto. Achou ele ridículo. Acredita que o texto ficaria melhor se fosse de alguém importante... disse pra ela que o Renan Calheiros não queria me dar entrevista... mas ela insistiu... e me chamou de idiota "Renan? Ele não é importante! Por que vc não perguntou para o Fábio Assunção? Hein?". É, a vida é mesmo um Paraíso Tropical pra algumas pessoas...

17 escrevinhanças:

Anônimo disse...

Varre sua casaS todos os dias ?!?!?!?

jow disse...

RESPOSTA AO ANÔNIMO:
Sim. Todos os dias. O chão é de terra-batida e a poeira é muita.

Renato Alt disse...

São cronicas como essa que tornam a vida interessante: algumas coisas só se tornam mais verdadeiras se ditas por outros, com palavras de outros.
E são cronicas como essa que mostram que a internet ainda é um lugar interessante para se frequentar.
Abraços

Anônimo disse...

Oi Joni, eu gostei do texto... apesar de achar um pouco triste.
Com certeza, é bem parecido com a realidade de muita gente que nós nem conhecemos...
Vc sabe, eu me emociono com quase tudo que leio, e já consegui até visualizar a Toninha!

Te amo. BEIJÃO

Anônimo disse...

Jonátháss!!!
Vc que escreveuuu??? ou copioo??? q tristee!! rs, mas gosteiii!!

beijo.

Anônimo disse...

bom, vc disse p/ eu vir aki pq 'sou sincera'... eh, de vez em qdo isso eh verdade... =P
gostei do texto. ele me lembro akele livrinho da ovelha, c/ akele ensinamento do tipo 'ela eh feliz do jeito q tah, naum enche!' XD e confesso q no começo fiquei meio desconfiada c/ a hist dos 10 vestidos e soh 2 usados, + depois axei essa senhora taaum simpatica... imaginei tds as cenas no tipo 'reportagem do globo reporter: as idas e vindas da globo no sertao p/ mostrar o povo brasileiro', e sim, eu sei q eh interior de sp, + sempre q globo reporter mostra essas pessoas, parece q foi td gravado no sertao... XP
e fiquei meio (naum lembro em port, vai em ing) 'ackward' por escrever s/ acento/letra maiúscula depois do coment ae de cima... + vc disse p/ ser sincera, intaum vo escrever assim msm! =P
(e, como sempre, o coment viro um romance XD)

Anônimo disse...

foi um erro de concordância, mesmo tendo a quase certeza de que foi apenas na hora da digitação o erro
releia

Anônimo disse...

Oi, Jow. Vc inventou a personagem ou realmente a conhece? Pq o texto foi escrito de uma maneira tão realista e detalhada que dá pra pensar que é uma personagem real. Bem, real ou não, ela representa mtas pessoas reais. Vc nunca escreveu um texto desse tipo até onde eu sei. Pela parte dos vestidos no começo, dá pra pensar em outro tipo de mulher. Mas então você começou a descrever o dia-a-dia dela detalhadamente, o q faz com que o leitor mergulhe na história e é como um filme passando diante dos olhos. Parabéns pelo texto.
Bjuss

jow disse...

RESPOSTA 2 AO ANONIMO:
Obrigado por indicar o erro. Já está corrigido.

Anônimo disse...

Adorei. Real é a palavra.. Nao tm nd melhor do q enxergar a historia q se le..

qto ao seu comentario final..Otimo. escreva uma cronica baseada nele.

qto ao comentario da line : eu axei d+ 'ter 10 vestidos e soh usar 2'..XD eu tnhu 10 calcas jeans e soh uso 3 ( e smp axo q nao tnhu calcas..)
kkkk
bjuss
saudads d vcs..

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

:)
adoro vc
bj

Unknown disse...

Adoreiii esse texto...
se fosse um livro, nao iria ter vontade de parar de ler...
porém, nao entendi direito porque ele foi colocadoo..

Beeeeeijo enoooooooorme
s2

Anônimo disse...

primo gostei, é um pouco triste...mais também mostra q existe pessoas q são felizes com o pouco que tem.
vc copiou ou vc que fez?
bjus

Anônimo disse...

Não queria inflar seu ego mais do que ja ve sendo feito.

Por isso me resguardei no direito de apenas dizer que suas crônicas são sensacionais, e que seu talento é inquestionavél.

Abraços.

Unknown disse...

Ótima lição... Alguém com uma vida simples e feliz que não fica procurando problemas pra se preocupar. =D

Ela é que está certa, e as vezes ninguém pára pra prestar atenção nesse tipo de pessoa...


Muito bom!

Unknown disse...

Esse texto contrasta com o "Norte", do Renato Alt ...

Duas formas diferentes e muito interessantes de ver a felicidade.