Ela nunca tinha visto o rapaz, mas quando viu, apaixonou-se. Não tinha o tirado da cabeça. Passara o dia inteiro no trabalho lembrando do seu cavanhaque, da sua camiseta lilás e de suas pernas atléticas (ele estava de bermuda naquele dia). Mas seu chefe não se agradara com aquele comportamento “aéreo” de sua funcionária.
- Lindalva?! Lindalva?!
Ela se virou pra ele:
- Sim, senhor
- Lindalva, o que acontece? É a segunda vez, só hoje, que você decidiu dar a indenização à um segurado. Você sabe que é política da empresa não indenizar, Lindalva. Você sabe que temos todos os meios e subterfúgios para não indenizar o cliente, não sabe Lindalva?
- Sei, sim senhor.
- Você leu as linhas miúdas aos fins dos contratos, Lindalva?
- Sim, senhor
- Então me diga por que raios você está dando indenizações hoje, Lindalva!
- Uma indigestão
- Indigestão, Lindalva?! Quer um antiácido, Lindalva?
- Acho que não resolveria. Mas já já melhoro, senhor Ariovaldo.
- Espero que sim, Lindalva! – virou-se para um outro funcionário no outro lado da sala e gritou – Oh, Fernandez! Você...
Lindalva tinha se apaixonado pelo rapaz e nem ao menos sabia seu nome. Sabia que ele era bonito; que gostava de rock (conseguira ouvir a música de seu fone); e que ele se levantara para dar lugar a uma senhora no metrô.
A Sirlene, sua colega de escritório e amante do Ariovaldo, estava curiosa com o comportamento da Lindalva.
- O que aconteceu, Linda?
- Acho que é paixão, viu... Vi um rapaz, lindo, no metrô. Nem sei o nome dele. Mas me apaixonei... – risos
- Ai menina! Segura hein! Queria eu estar como vc... – mais risos
Naquele dia, Lindalva não dormiu direito. Irriquieta. Virava-se na cama, tentanto reconstituir a face do homem pelo qual ela havia se apaixonado.
Naquela semana, Lindalva continuou pensando no homem. E no seu cavanhaque (com o qual tinha desejos impuros).
Na semana seguinte, recebeu um telefonema:
- Oi, meu nome é Fernando e... conheci uma garota no metrô... Lindalva... trabalhava na OpenMarket... eu vi no crachá... é você?
Lindalva se encheu de esperança. Só podia ser ele. Mas que coisa acontecera naquela tarde no escritório. Devia ser uma recompensa pela ajuda dada aos segurados aflitos que ganharam indenizações da OpenMarket, liberadas por ela, naquela semana.
- S-im, sim!
- Pois então... eu gostaria de me encontrar com você... seria possível?!
E marcaram o encontro. No Coffee Plaza, no shopping StilusPlaza. Naquele dia, Lindalva se maquiou com um toque a mais; vestiu uma linda saia branca com uma blusinha vermelha (tinha lido que a cor em questão era de “fundamental importância para alavancar a vida sentimental”) e um sapato de salto comprado para a ocasião. Ele estaria de jeans e camiseta branca.
Foi se aproximando do local marcado e viu de longe um rapaz vestido como o esperado... chegou perto, virou-se pra ele (ele estava de cabeça baixa, olhando para a xícara de café):
- Desculpe-me... sou a Lindalva...
O rapaz se virou pra ela e começou a rir. Não podia ser. Ela não acreditava. Teve um surto. Saiu chorando-correndo-gritando pelos corredores do shopping. E nunca mais voltou para o escritório ou para casa. Sumiu.
O pessoal do escritório ficou ainda comentando nos meses seguintes, nas rodas de confraternização às sextas-feiras, no “Bar do Alemão”:
- Como pode, hein? Sumir assim... o chefe realmente não deveria ter feito o Hernandez se passar pelo rapaz!
- Ah! Ou ela deixava o coração de lado ou a empresa ia à falência, né – risos na mesa
- Mas que foi engraçado foi... – mais risadas.
E a OpenMarket continuo seu rumo, assegurando “o melhor preço, a melhor cobertura e a maior rapidez”.
--
D. Alzira disse que o texto está bom. Não perfeito-perfeito. Que dá pra melhorar. Mas não é de "todo perder tempo". Disse também que não deveria ter ironizado a ciência por trás das cores e das revistas de novela. Disse também que apreciou o apoio dos leitores quanto a sua recuperação da cirurgia nifrídica. E mandou dois beijos para cada um.
Eu, bem... eu mando um abraço... rs
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7 escrevinhanças:
Olá Jow. Não estou muito inspirada a comentar. Não porque tenha ficado ruim, pelo contrário. Provavelmente tenha sido um dos meus favoritos.
Hum, é claro que tem um ou outro erro gramatical que devem ter passado despercebidos pelos seus olhos, mas td bem. Eu poderia dizer que terminou de forma inesperada, mas conhecendo você e seu estilo, eu não direi. É típico de você acabar daquela maneira. Achei que vc resumiu nesse texto valores individualistas principalmente através do chefe que pensava apenas no dinheiro perdido e resolveu sacanear a funcionária para resolver o problema dela estar pagando as indenizações aos clientes (eu lembrei de Os Incríveis nessa parte, não sei se você chegou a assistir e teria tirado inspiração do filme). E tb tem o caso da amante do chefe ser fofoqueira. Se fosse amiga da Lindalva não ia comentar com o chefe.Você fez a Lindalva ser vista como uma personagem romântica e sonhadora que no final ela se deu mal por isso. Pelas entrelinhas poderia eu enxerguei a mensagem de que é uma crítica às pessoas que são por demais sonhadoras. Sei lá se foi isso que você quis passar.
Bjuss
pronto, 'ói ieu aki traveizi!' XD (sempre quis falar isso na net....)
eu gosteeei, apesar da pobre moça se dar bem mal no final... (ack, sorry pela rima pessima, naum foi de proposito) + realmente uma resolução bem interessante para o problema de indenizações...
agora dah p/ perceber q vc realmente não acredita (pelo - por enqto) no 'amor'. sim, estamos no mesmo barco de motor de proa (ou caiaque, ou akela canoa de indio q tem um nome mto 'sugestivo' e q geralmente a gente perguntava 'vc jah sentou na (nome da canoa) do indio???') XD
e eh impressao minha ou dnae jah pego o espirito de RI? geeeeenti, nunca vi tanta palavra certa e dificil assim na net, principalmente num coment... alias, eu axo mto interessante vc estereotipar as pessoas, tah? naum eh pq estereotipo no cotidiano eh ruim q vc naum pde flar q 'a amante do chefe eh fofoqueira', viu? axo q isso 'enriquece' o seu texto... (sim acabei de ler o coment da dnae e agora me senti inspirada pelas palavras dificeis XD)
enfim, eu realmente gossstei...
pena q na fuvest naum de p/ fazer cronicas... vc ia se sair mto bem =D
bjaum!
"claro q li!!
acredito ter sido a primeira aler ainda!!eheh
só n deixei nenhum comentario...tava sem ideias no dia...
porém o senhor sabe q tá mto booommm!!!
assim como eu agora lhe falo! "
"gostei muito!"
É. Deixar o coração de lado parece ser a pedra fundamental do status quo.
E que importa o que nos faz humanos, certo?
Abraços...
Essencialmente quando falamos da arte no mundo moderno capitalista, falamos de padronização, estandadização e fetichismo. Toda a forma de arte que se volte para o real, se despoluindo do caráter impuro da mecanização da produção em série deve ser olhada com olhos de admiração e exaltada com afinco para, se não ainda, o autor entenda o verdadeiro siginificado da arte com aura e siginificado e não um diversão mantenedora da industria cultural e por consequencia da estrutura social avessa.
Digno de parabéns, caríssimo.
Um forte abraço.
Iludi-me com um possível final feliz pra Lindalva (bem-feito pra mim! risos), mas gostei muito do final surpreendente!
Sabia que algum desses teóricos do "conto" disse que só é conto de verdade se o final surpreende?
Não me importo muito com essas teorizações, mas reconheço que não é fácil "enganar" o leitor.
Parabéns!
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